NA MATA CORRA, OU MORRA!


Colocou a colher na boca manchando os dentes alvinhos de vermelho. Sorveu após mastigar lentamente enquanto seu cérebro lhe imaginava em Paris, coisa que foi ensinado a consumir. Ignorava outro tipo de existência e além do espelho quase nada, a ela existia. Vestidos, enfeites de Cinderela. Sempre achou que bastava um ai e tudo caía do céu por ter que ser assim mesmo. Não conhecia horas, quantidades, sobras. Aos poucos foi ficando louca e a realidade não passaria de brincadeira. Se deparou com o amor, foi quando vieram as desgraças. Mas não foi o amor, foi a desgraça, pois ela só via a desgraça. Nas sombras das árvores e todo aquele encanto de castelo ela passou a achar chato e pelo fato de não saber de nada da vida prática, também não sabia amar. Ninguém vem amar por você meu amor, foram as primeiras vozes que lhe martelaram e logo passou a violentar seus próprios cabelos que agora cheiravam a realidade. Ouviu ao longe os tambores e correndo à esmo na mata foi mesmo em cima da fogueira onde os homens tocavam e conversavam pessoalmente com seus Orixás. Ela sentiu muito frio e também não conhecia o fogo. Louca em sua tristeza pulou no meio da fogueira e foi regurgitada. Aquilo que parecia uma mulher queimou à parte como um efeito alheio. Seu uivo aturdiu a calma e pega antes do tombo foi arremessada ao templo das bestialidades.
– Quem é você? Perguntou um Orixá.
– Eu de fato não sei eu só quero um abraço pois sinto muito, muito frio. Talvez não aprendamos a amar mas um abraço é cortesia!
Os Orixás recuaram como chegaram para não lhe mostrarem as costas e recuando foram dançando enquanto o fogo ardia e dizia:
– Tempo meu senhor, já é o nosso tempo?
– Tempo meu senhor, já é o nosso tempo?