RESISTÊNCIA – a Arte, entre luz e sombra, e o povo Xirixana


Exposição de JPavani no SESC Mecejana reúne pensamentos e ações de diversos atores da arte e militância na Amazônia.
Imagens e textos convidam a um envolvimento maior. Conheça nosso texto para a mostra que reúne ainda textos de Alexandre Sequeira dentre outros.
A mostra segue aberta por todo o mês de abril com entrada franca.

SOMOS XIRIXANA, QUEREMOS QUE O MUNDO SAIBA!
A arte nos faz mais Xirixana. Seguimos, vendo desfocada a parte mais viva da humanidade, o nosso reflexo. Desse lado da evolução, faz frio. É o calor da nossa voz que condensa o ar, o calor do fogo embaixo de nossas redes. Experimentar é como sentir-se, agora, arte na moldura, um instante só de abstração. Aqui, somos o imaginário. Aqui, tem nossas imagens e emoções. Entramos na eternidade com nossa imagem e vontade. Somos memória, viva e guardada, na fotografia. Moramos às margens do rio poluído. A floresta invadida é palco de horrores. Estamos de fato no mundo dos brancos. Aqui todas as dores são reais e a imposição nos leva a um lugar de desterro. Desfigurados, somos outros destinos, revolvidos em partes, na busca de outras fisionomias. Nunca fará sentido a unidade de um mundo diverso e a teimosia entrou na floresta despistando tudo. Subir e descer o rio encolhe as distâncias e, daqui, vemos o que se perdeu na guerra e o que seguirá. Quando olhos avistam outros mundos, exigem a troca de pele, a troca de tudo para passar a ser outro, outro ser. Empenhados nessa viagem, não pensamos em um evento fim. Somos guiados por nossa expectativa e a floresta não cobre mais a dimensão da nossa existência. O nosso reflexo se espelha em tudo e não há mais tanto verde para se viver. O homem que busca ver encontra quem quer se revelar. A arte faz um encontro inédito ainda no início do século XXI. Visões, visagens, um cenário banalizado, o contato de tribos com a civilização é recorrente na Amazônia, mas aqui não. Para conferir a grandiosa honraria que merece o trabalho de JPavani, antes, devo dizer que um dia me chegou ao ouvido: queremos que vá na nossa comunidade. Queremos saber mais sobre isso aí, a arte. O Povo Xirixana de Sikamabiu, TI Yanomami, organizou as comunidades da margem direita do rio Mucajaí e fundaram a TANER – Texoli Associação Ninan do Estado de Roraima. Para escrever aqui, precisei viver. Construir a exposição midiática do povo Xirixana com a arte, sendo artista e indígena, é algo que devo imensa gratidão e honra. O trabalho com o povo é para reforçar a identidade e divulgar a TANER e sua demanda urgente, retirar o garimpo da região. No Rio Mucajaí, mais de 6 comunidades vivem estado de conflito e violência por causa do garimpo.
Jaider Esbell – artista e produtor cultural