CONTO CANTA CHAMACANTO


Os galos cantam, eu também cantei pois são 3h da madrugada e para nós da floresta Amazônia essa é a melhor hora para cantar. Essa é a melhor hora para encantar. Assim cantamos juntos os galos, os grilos e os meus parentes que estão nas suas redes em distintos cantos da grande escola a cantar suas re-existências. Canta a minha mãe lá no topo da montanha, no sopé daquela outra de onde desce o vento, mais de lá. Cantamos juntos e começou logo a chover e a chuva entrou para a aula pois sabia do pedido de socorro que há em todo canto. A chuva vem quando sabe que meus ouvidos são os teus e que perdura um eco de desassossego. A chuva vem destravar o nó de minha garganta e com a força própria desbarreirar talvez os rios barrados por hidrelétricas. O besouro faz pesquisa e sua pesquisa é musical quando ronda na luz não natural e ele chega incrédulo também para o suposto mito puro. O índio pisa a lama do curral onde o jacaré perdeu espaço pois tirou o pé descalço debaixo do casco do boi marruá. Há marcas na floresta, linhas, grifes… para que haja linhas impressas nos livros, marcas d’água digitais marcadas nas almas e que revelam visagens, assombrações de ditaduras, uma dentro da outra no des-tempo visionário. Há um tempo para selos, para sê-los ou ser-te. Ser-te herói de sua saga onde bebes teu veneno em sangue estrutural. E vem a chuva fazer esquecer pois é uma senhora sábia que vem na hora merecida de seus filhos prediletos. A cobra foi vista cruzando a estrada buscando a entrada fugindo da saga da ignorância do tempo sem música, da música sem tempo e foi passando assim falando novamente de deusagens e passou a cobra a ver com o olho da perplexidade que a deixou viver até àquela idade e por bem do merecer agora era coruja para neste viés da cultura pôr um pouco de suspense no olhar, olhando sem virar, para trás…..