Delicadezas e re-existência(s)


A Galeria Jaider Esbell tem a honra de convidar-lhes para uma vivência única.
Sexta-Feira dia 17 de maio a partir das 19h na Rua Anália Soares de Freitas N. 1633, no bairro Paraviana. Preparamos uma recepção especial para marcar o encontro de duas mulheres de vidas e tempos distintos por meio de suas artes, saberes e ligações com o mundo e com as questões femininas.
Ivete da Silva é Pós Doutoranda da UFSC. Do sudeste do país vive e trabalha como professora do curso de Arte Visuais da UFRR. Bernaldina José Pedro é nativa Makuxi e mestra de sua cultura. Ativista desde sempre, a luta de Bernaldina é referência para muito além de seu povo. Seu trabalho manual é uma forte ferramenta para seu circular. Nesta ocasião a mestra fala de sua arte em fazer tipoias.
Estaremos servindo Damurida feita pela Bernaldina e no evento estaremos aceitando apoio financeiro para suas demandas.
Para conhecer mais leia o texto da atividade.

Delicadezas e re-existência(s)

Por Ivete Souza da Silva
Delicadezas e re-existência(s) é uma proposição educativa/performativa que integra a pesquisa de Estágio Pós-Doutoral que venho desenvolvendo junto ao Programa de Educação da Universidade Federal de Santa Catarina (PPGE/UFSC). O objetivo é tecer diálogos interculturais entre os povos de Boa Vista-RR e Florianópolis-SC por meio do entrelaçamento de suas narrativas.

Sua construção se dá por meio das linhas e dos bordados a partir de elementos culturais constituidores das identidades dos povos dos estados de Roraima e de Santa Catarina, em especial de suas capitais. Entrelaçado a estas narrativas, estão os elementos culturais que me constituem, os quais são potencializados por experiências vivenciadas nas terras do Norte e do Sul e que atuam como disparadores de minhas memórias afetivas.

As criações estão sendo pensadas a partir de uma estética da delicadeza, como propõe Denilson Lopes e do conceito de “ambientação” do artista plástico e performático Hélio Oiticica. As linhas, os tecidos, as agulhas e os teares são elementos para tratar de delicadeza e re-existência, ao se entrelaçarem contam os saberes produzidos nas narrativas de lá de cá costurando-as e hibridizando-as delicadamente, mas, sem deixar de considerar a dor, o medo, o estranhamento e a ruptura, elementos necessários para o processo de re-existencia(s) e criação. Junto a delicadeza há o processo de re-existência representado pelo tecido, o papel ou outro suporte que faça parte da obra.

Ao resistir o atravessamento da agulha em seu corpo impõem-se e reinventa-se transformando-se em um novo elemento. A Galeria de Arte Indígena Contemporânea do artista Makuxi Jaider Esbell é um local propício para esta vivência artística por ser um espaço de re-existência(s) que abriga, além das obras do artista, trabalhos plásticos de artistas locais, bem como, material de pesquisa sobre os povos indígenas suas lutas e sua arte.

Jaider Esbell por meio de sua arte dá voz aos povos indígenas de Roraima nos oferecendo também uma outra proposta de existência, ao largar na nossa mesa, sem delicadezas, os impactos causados por nossas ações e relações no mundo. Resistir e reinventar-se é a grande arte dos povos indígenas, que há mais de 500 anos vem se reconstruindo e reinventando sua forma de existência, como afirmou Ailton Krenak.

Bernaldina José Pedro, ou Meriná – seu nome ancestral Makuxi – é outro exemplo resistência e re-existência. Mulher, índia de uma força gigantesca que emana por meio de suas cantos e seu tear os saberes de seu povo. Meriná canta e tece além de suas peças a vida, e com ela preserva e anuncia a história ancestral de seu povo. Meriná compará comigo esta vivência com seu trabalho em tipoias.

Os encontros e confrontos culturais/étnicos/conceituais estão longe de estarem temporalmente distantes de nós. Ao contrário. Estamos imersos nesse tempo e, para atravessarmos será necessário nos reinventarmos e conseguir enxergar a “leveza presente mesmo em meio ao maior descontrole”, como nos diz Denilson Lopes.