AMAR PARECE BOM – PROVE COM A PONTINHA DO DEDO


Ao entrar, foste tu quem me abriste a porta, pois viste na soleira a claridade dos seres que me guiam. Eles sim são iluminados, e me tomaram como instrumento para operar. Devem ser para eles todas as reverências, e, se beleza vês em mim, é tudo deles.
É para eles que devemos tudo, pois sou deles, instrumento deles e desse modo, a mim não precisas pedir perdão ou desculpas, também não me sinto capaz de perdoar o que não há, ou pedir perdão pelo que não foi meu, não fui eu. Somos crianças e deveríamos estar felizes, a té parece que estamos ao arengar. Birras, mimos, os sentidos mais amplos para as nossas sensações quase espontâneas, nossas frágeis emoções, nossos inocentes ato-intenções.
Eu te pedi um tempo, foi isso. Por me faltar tempo e palavras para explicar o que eu precisava fazer, eu te pedi um tempo, e foi só isso. Um tempo pra respirar, pra decantar, descansar e curar, um tempo para ouvir e ver com clareza nesse luar, que, de tão belo e forte, ofusca, ilude e embobece. Um tempo para entrar nessa nova atmosfera, cheia de outras belezas, carregada de tantas energias, eu te pedi um tempo, me dei à força, esse tempo.
Sem forças para gritar, de tanto bandeirar eu te pedi um tempo.
Tu me deste este tempo e este tempo rasgou teu coração e renovou-o. Uma cicatriz na gente, cicatriz passageira, e o maior de nossos frutos é nossa enfim, liberdade. Liberdade de respirar, de fazer as nossas belas poesias, pois és, um ser de virtudes, de hábeis pensamentos e eu roubei teu tempo, roubei tua sensibilidade pelo chamariz da beleza e das virtudes, que como disse, são sempre dos nossos guias, dos meus e dos seus.
Eu te pedi um tempo, e no ato, te dei um tempo. Um tempo para avaliar, para amargurar, ferver e ver o que sobrava. Sobrou, está vivo em mim, em ti, e como sempre soubemos, não controlamos nada, não impomos nada, mas eu precisava me dar um tempo e te pedi. Eu precisava e continuo precisando de um tempo, o tempo para respirar. Assim como a multidão, vou parindo aleatoriamente e parece que já basta de tanta arte, de tanta gente e eu precisava de um tempo, preciso diariamente desse tempo. Para acreditar que a beleza é mesmo nossa, que a felicidade é mesmo da gente, de gente, e de graça; que temos que saber dosar a luz a ser lançada na desgraça. Para que não haja desperdícios, para que não incorram em riscos, em dependências e outras lamentações.
Tudo se manifesta naturalmente, e naturalmente somos tendências, somos liberdades sujeitas a escravidões. Somos possibilidades, sujeitos às vãs vaidades, aos vãos domínios, aos bem-quereres. E não há mesmo vida morna, sem desníveis, sem paixões, sem perdões!