O MEIO DOS MUNDOS SÃO OS RIOS? – A AULA DOS ÍNDIOS UNIDOS


A quantidade de plástico, somente o plástico industrial na vida cotidiana pode nos fornecer uma boa pista para o rastreio de nossa integração doentia no mundo. Mas, não devemos nos furtar de não aceitar o fim em desânimo e conformismo. Cada elemento estranho na nossa conjuntura pode nos mostrar que entre as maravilhas da alta tecnologia e as grandes exclusões, estamos nós, com nosso poder quase amortecido de fazer a diferença em tudo. Pensar em isolamento é estar a serviço de um aparente conforto. Reconhecer que não se está isolado é estar em contato, em nosso caso mais urgente, os isolados estão conectados pela parte mais triste do grande avançar. O resíduo, o descarte, o lixo, a poluição, a violência, o desgarrar, as doenças que seguem o fluxo da natureza de levar, de conduzir. Cidades nas margens dos rios, no meio dos rios, em cima dos rios. Toda a nossa massa residual incluindo nossas fezes e urinas, junto com todos os nosso fluidos corporais geralmente cheios de doenças vão normalmente para os rios, que foram decretados esgoto do mundo. No esgoto do mundo tem de tudo até corpo de gente. Eu vou te levar a ver um ponto de contato e do fundo do rio vamos emergir com uma interessante perspectiva. Indígenas são próprios de seus ambientes e plenos em suas passagens pelo grande universo. Indígenas tiram tudo do rio para a vida plena, mergulham pegam peixes, mergulham para interagir com outros seres, mergulham para amarem-se, mergulham para fazer parte da água. Mergulham para procurar Muiraquitã o amuleto da vida e da conquista. Mergulham e mergulham a milhares de luas e continuam mergulhando. Mergulham e topam em ferro, em vidro, em concreto, em alumínio, em corpos humanos e seguem mergulhando como sempre fazem. O artista nato Edmir Baré da Comunidade Uababa II do Rio Negro foi viver normalmente no rio, foi mergulhar. Mergulhou e se emaranhou em tanto saco plástico. Edmir se iluminou, foi mais longe no fundo do rio e recolheu o plástico que lhe pretendia afogar, sufocar, matar por asfixia. Não, Edmir não aceitou o fim, rompeu a força da morbidez e puxou todo o plástico, só o plástico daquele composto de vida e poluição, entre peixes também envenenados e foi pra casa, para ver e mostrar. Em casa foi estudar, que material é esse? O que dá pra fazer com isso, como isso veio parar aqui, o que eu devo fazer isso? Edmir não teve dúvida, foi aplicar seu saber de artista nato e de ver o simples servir das coisas da natureza. Pegou o plástico e o trançou, do mesmo modo de sempre, fazendo o que se faz com fibras, vida e serviço. Arte trançada, a trama da vida a trama do tempo. Edmir fez e soltou no mundo. Hoje, uma arte indígena contemporânea pode ser isso, um lindo trançado de plástico que contrasta fortemente com o trançado tradicional, de fibras orgânicas de arumã, lá em São Paulo- SP. Colocamos uma sobreposição aqui para que talvez possamos pensar que aparentemente o contato pode ser harmônico, só que não é. Lembre da quantidade de estranhezas que mostrei descendo nas águas antes puras. Edmir mergulhou em águas profundas e trouxe para o cotidiano o símbolo de nossa comunhão despercebida. A cultural mundial, o nosso produto comum tem cor e dá constaste, mas não tem vida e talvez ganhe e devolva. Pensar criticamente as relações humanas talvez nos faça ver a nós mesmos e nos leve ao amor próprio, pois sem amor próprio, a natureza vai continuar sendo o lugar-destino clandestino de nossa maior pobreza, a pobreza de espírito e o acumulo de resíduo do tão sonhado fracasso chamado felicidade ou qualidade de vida, ou sucesso, ou desenvolvimento.
Muita gratidão Parente Baré e ao amigo Marcelo Monzzillo, eu tive uma grande aula com isso, resolvi partilhar!