QUEM DEFENDE AQUILO QUE JÁ NÃO EXISTE?


Quem haverá de defender aquilo que já não existe? Minha mãe reza forte por mim pois sabe que; se vida tenho, ela está garantida. Ela sabe que é de vida que gosto e gosto mesmo de vida boa. Vida boa não é o mesmo que boa vida e isso também sabem minhas mães. E quem defende um tipo de amor tão concreto como este em um tempo de.. fins dos amores? A coisa está séria e meu bom gosto pela vida tem me feito nascer todo santo dia, em todo canto e isso fez minha mãe perceber que vou precisar de tantas outras mães. Assim ela passou a fazer rezas para que eu fosse parido constantemente o que está sendo bem feito. Bom feitiço. Ontem fui parido na beira de um lago. Era manhã e eu cantava para meu próprio parto enquanto o mundo continuava e o sangue do parto estava nos letreiros, nas BR’s nas lanternas traseiras dos carros. Muita gente, gente atrasada para o trabalho. Muita gente, gente com dor e eu estava sendo parido na beira do lago enquanto o peixe pulava para comemorar o meu batismo. Batismo nas águas nessa base de floresta que está voltando para se regenerar eu não me recuso a falar de tanta violência. Me foi dito: – eis a ti mais uma vida e veja onde vais botar esse cúmulo de amor. Olhei, vi folhas amontoadas e pensei; ali dá um bom ninho e puft, pus uns ovos de jacaré, bem lá. Pronto, era um ninho de amor. Ainda me tinha excessos e vi num galho a esperança. Babei no barro e armei a gerigonça e na força do pensar ouvi já o piado do bichinho que já nascia junto comigo sendo eu seu pai e ele também querendo ser e eu o deixando, sem o menor problema, ser. Eu fui andando. Recém nascido eu fui andando e nesse ir fui costurando umas conversas com fios que ainda pingavam uma seiva umbilical. Quem defenderá o indefensável? Ainda martelava meu juízo quando veio aquele alívio. Macacos pregos pendurados comendo bagos de ingá cantavam e os gaviões falavam para aqueles de suas culturas.
– Ele está aqui! Ele está aqui, falavam eles.
No que do outro lado da nine floresta alguém respondia.
– Tá mentindo, tá mentindo, ele não existe mais!
No dia, era feriado, uma alusão à revolução.
Eu via a revolta dos bichos e como bicho me envolvia nas folhas pois havia friagem descida das grandes montanhas para nos desmentir. Desceu um frio pondo o fogo e a fumaça para correr pois há de se ensinar sempre a razão maior da mãe Naturaleza:
– Só se ri se eu deixar e se sorrindo estás agradeça pois é total o seu merecimento!!
E quem defenderá aquilo que já não existe?