Performo para meus ancestrais


Eu não quero que você me veja, eu quero que você vá viver a sua vida.
Eu não quero que você me veja sem você, ou, que você se veja sem mim.
Sim, eu quero que você se veja em mim, semente de mim em ti no meio desse capim. Nativo, uivo, escuto, canto de sabiá, bem pra lá depois do vendaval, da fumaça horrenda do canavial.
Açúcar diabos, dais diabetes, em mim, em ti nos nossos velhos. Tu fazes roer os dentes de minhas crianças e quando queremos sorrir ficamos pasmos, sem graça. Não, nada é de graça e qual é a graça em me olhar se eu performo para meus ancestrais?
Eu vou estar na avenida, nas casa grande, lá.. nos quartinhos do fundo fundando, fundando um novo tempo, pensando no jumento que hoje está no relento ao som do abandono. Pobre belo animal que longe de ser pobre construiu a realeza desse país sem alma, que insiste em violência e faz o sol arder ainda mais em nossa pele. Vermelha, pele negra matizada, pele azulada, azul de realeza, alma batizada e mesmo assim és mal criada és rebelde pois és livre. Ambientes trocados, outros gabinetes, joguetes, foguetes, discos voadores e mais amor, por favor vem com mais amor pois aqui fede, e arde e queima… O santo, a santa memória de uma outra odisseia, a mesma, que é só querer ver o meu sofrer. Mas não é pra você que me exibo é para a natureza plena, essa para quem falo em meu silêncio. É para essas cinzas do rio que voltará pois para isso é que performo; para me reencontrar e me reencarnar mesmo sangrando nos rastros sagrados de meus ancestrais.