MEIO AMOR


– Ela é tão linda, parece mesmo uma estrela!
– E ele? Ah, ele é belo, parece um buritizal em dia de muito sol com as folhas todas entregues ao vento cintilando felicidade. Um verde já mais pra cinza, cor indefinida. Algo único sem descrição, ali onde tudo cabe na palma da nossa mão.
– Parente que coisas interessantes você vê!
– Eu não vejo nada, eu sou cego eu sinto melhor com a alma, a alma do coração, sinto um amor assim bem simples, algo puro como mingau de banana e água.
– Eu acho que o amor é uma janela de onde pode-se olhar para dentro e para fora.
É uma janela onde você pode se sentar e balançar as pernas ou ficar com as mãos no queixo simplesmente olhando o infinito sem ninguém lhe perturbar. Acho que amor é uma janela em que você pode botar uma flor em vaso e regar todo dia e ver o crescer da planta de seu amor… até que um belo dia virá o beija-flor…. E nesse dia estará igualmente feliz pois foi de amor cotidiano que construíste tudo isso…. e isso é seu por inteiro e como seu pode dar ao outro pra mais sentido…
Sei lá, gosto dessas coisas que não se acham nos livros, talvez no lixo em lugares menos propícios. Eu vejo meu próprio destino no copo d’água que bebo e que quem faz mais hidro. E depois de andar por tantos campos sei que a senha é a mesma, sorrir e esperar na sombra a manifestação do amor para cada ocasião. E quando o sol está nervoso, tudo está nervoso e é quando desço para bem dentro da terra onde ainda é friozinho e tudo lá é mais calmo e me encolho e me acolho. Me acolho em auto-amor e isso não é vaidade nem esses sentimentos todos que se escrevem sobre tais. Eu fico horas no galho até que a árvore fala:
– Vai passarinho, vai procurar outro ninho, vai andar com seus amigos polinizar a estação. Então me faço em cavalos e em lotes galopeio sobre a saudade com minhas crinas bem soltas desfiando a nostalgia de minha tribo remota. Para diante do lago e todo desfeito de fera toco a ponta do menor pedaço de meu corpo para me desfazer de um selvagem e ser a própria selva a acolher ele com ela em um só espaço-corpo-espiritual e vem o rito, o grito-ritual de um outro tipo de amor estrutural.
– E como ela é?
– É linda que não tem nome.
– E ele, é lindo que não existe, para mesmo só existir nos campos possíveis do além ir.