PASSO A PASSO MAKUNAIMA


Passo a passo Makunaima é uma jornada que se lança. Eu provocador dessa inquietude posso ver três pontos bem proeminentes. Makunaimî – Makunaíma – Makunaima. Perceber esses três pontos como tempos estratégicos nos fará chegar ao ponto seguinte: o sentido vasto e vivo disto em nosso próprio caso. Makunaimî é como se grafa nas línguas que juntam as culturas que sustentam a entidade. Makunaíma é como o mesmo é espelhado, já híbrido na capa do livro de Mário de Andrade. Makunaima é um termo geral que se pronuncia em tom aberto, tipo, Makunáima. Eu me encabulo com isso desde as primeiras aventuras nos nossos mitos fundantes ainda em minha infância. Sem errar digo que iniciei ali sem muita consciência a minha própria trilha rumo ao agora mais desenhado. Quando de lá para cá já venho vendo as evidências, hoje mais definido em minha tese vejo os caminhos possíveis. O terreiro de Makunaima é vasto. Por hora é mata densa, longe da ideia dos homens. Por hora é o espelhado dos prédios, os cortes retos das ruas onde Makunaíma se faz urbano. Estes mesmos três pontos proeminentes podem ser associados a espaços físicos para depois novamente cair em subjetividades. Makunaimî vive no topo do Monte Roraima. Abaixo, em sua volta vivem os povos Makuxi, Wapixana, Taurepang, Ingarikó, Patamona, Sapará. Esses sobreviventes da colonização são diretamente os netos de Makunaimî. Makunaíma é um livro de 1928 e sua formulação fica fortemente marcada pela cena urbana da cidade de São Paulo. Mesmo tendo sido copiado de uma narrativa pura, o vovô Akuli Taurepang pajé contador de histórias. Esse cenário contém Makunaíma, o herói sem nenhum caráter que de uma vez deixa a sua morada e vai direto ao estrangeiro. O que fica para o brasileiro é um eco destoante que aportuguesado como tudo é vira Makunáima e essa mesma miríade de definição é a sua forma. Sendo então um neto de Makunaimî, o tenho em mim e as pontas soltas que flanam buscam suas conexões. Parto em aventura e vestido mesmo do que sou vou representar. Saio pelo Brasil provocando visões e antes que chegue os cem anos ainda temos dez. Passo em lugares memoráveis onde as urnas fúnebres falam dessa nova vida. Se passam trinta anos e as visões me chegam mais claras. Passo a passo a Makunaima é um caminhar respeitoso na memória viva e latente. No tempo em que luzes se acendem se partilham fagulhas no breu no esquecimento. Do mito ao folclore. Da essência de si à humanização. As investidas em re-caracterizar o nosso herói exige matéria de tudo à nossa volta. Voltar é deslocar criando ausências onde já com o tempo e o vício a fantasia se vestia de verdade.