REDES DE ALIANÇAS AFETIVAS


Se os movimentos sociais organizados vinham há 4 décadas às duras para uma consolidação devem agora enfrentar uma realidade ainda mais distinta da que foi sentida até o fim da última ditadura. As alianças afetivas requerem o estabelecimento de novos modos de se relacionar socialmente com o todo na passagem de nosso tempo. Pensadores, lideranças e articuladores estudam ações para se fazerem presentes ante às novas situações. É mesmo o fim de uma era e a questão de sobrevivência coletiva deve pressionar o comportamento individualista gerando tensões. A violência massiva antes distante bate à nossa porta e passamos de um país já desestruturado a um território instável e altamente explosivo. As tensões extrapolam os campos das ideias, acirram-se os discursos e impera a violência. A busca por uma unidade nacional é um argumento quinhentista. Nas mãos de agentes inescrupulosos é feita a nação refém por radicais da fé com armas nas mãos atuando na política. De aparente nação soberana regredimos a um território fatiado pelo crime organizado. A mídia exibe um governo com tendências a idolatria ao atual governo dos Estados Unidos. Extremismo e porte de arma para a população são suas políticas. Da Amazônia vem a maior preocupação quando os limites dos extremos se encontram. Os limites dos encontros é quando a extrema tecnologia e com ela sua exigência de modernidade encontra a maior floresta preservada do mundo com sua natureza de ser essencial. Lá nas florestas se escondem do mundo centenas de povos envenenados de mercúrio, são os isolados. Feitos caças às cegas são alvos de igrejas neopentecostais com apoio do governo. Selvagens em extinção. Por uma via ou outra parece inevitável a tragédia do contato. Eis aí bons fins de mundos como exemplos. Por eles e especialmente por eles devemos pensar nosso estar no mundo. As fronteiras se desfazem e sobre a floresta há um fluxo migratório como há milênios não havia. Cruzadas sem precedentes sobre a Amazônia não são assuntos nas TVs das grandes metrópoles. Nem mesmo no próprio local é possível perceber o avanço da força desenvolvimentista sobre a região. As tensões globais e latino americanas invadem o Brasil que não se posiciona. A mais leituras só tende a crescer as previsões e as expectativas para tempos estáveis se afastam. Com a grande crise na Venezuela vem a questão central dos interesses internacionais sobre o petróleo e ao que se pode ver, a grande guerra chegou por aqui. Sabe-se que já é uma guerra quando as perseguições e ataques são declarados. Inimigos políticos assumem terminologias como adversários e é instaurando um sentimento direitista clássico. Os recentes assassinatos políticos e planos de execução revelados juntos com diversos casos noticiados nas mídias sociais serão fatos recorrentes.
Enquanto ainda nos educamos para acurar este olhar temos que, estrategicamente, garantir nossos passos no nosso próprio ambiente. A sociedade brasileira, se de fato há, sofreu um estresse em si mesma com as últimas eleições. Além dos rancores e relações que se acabaram há uma questão central que é reestruturar a confiança nas pessoas, nas agências. Deve vir daí a sugestiva proposta de Ailton Krenak quando fala das alianças afetivas. Seriam relações baseadas nas mesmas proporções. Relações afetivas prescindem um afeto maior, o afeto pelo outro. A capacidade de acolher e estabelecer uma relação presente com coexistência. O afeto em seu efeito, seria um sentimento de potência para estabelecer uma relação comunal entre indivíduos. Vejamos nesse estudo que estamos falando de ambientes extremos. Um sentido claro de conflito deve despertar no indivíduo a capacidade de desenvolver afetos, empatia, resiliência. Com fins auto educativos e auto vivenciais despertam grupos livres de estudos do nosso tempo. Estudar o nosso tempo a partir de uma coletividade talvez seja a maneira mais sensata de evoluir em questões centrais no grande conflito. A identidade cultural de cada um conta muito. O sentido de pertencimento, o sentido de acolhimento e o sentido maior de estar em uma unidade comum. O grande desafio é o ambiente da tolerância existencial. As questões tidas como de caráter de direitos humanos devem ser traduzidas em simplificado. Fazer caber a diversidade em sua própria lógica precisa de uma plataforma que são as questões ecológicas. Os recursos são limitados. A diversidade precisa ir além dos campos comportamentais urbanos e atingir modos menos degradantes de relação do homem com a terra. As linguagens afetivas devem dispor tempo em elevar a auto estima. As pessoas devem ver-se antes de uma ideia de pátria. Fica claro o desapontamento do cidadão com a política. Há de se refazer a política e as pessoas. Os parâmetros que as pessoas têm vêm da televisão aberta. A dramaturgia reproduz a vida ou a vida se espelha nos enredos das novelas. A vida em ambiente de corrupção nos faz questionar sobre os limites das legalidades. A diplomação de políticos presos é o maior exemplo que temos sobre a questão se o crime compensa. As noções de legal e ilegal, público e privado não são perceptíveis. As comunidades em que vivemos, os fluxos por onde transitamos são nossos ambientes de ação. A frente em que devemos atuar. As alianças afetivas nos mostram caminhos para uma relação mais presente com o nosso meio. Viver em menores grupos é um caminho a se percorrer na corrente contra o grande fluxo. Para tal feito é necessário o afeto nas relações. A descentralização, a dispersão como uma política de afirmação é uma migração silenciosa. As redes de convivência ao redor do mundo podem nos mostrar caminhos para a coexistência. Quando dito que a crise latina invade o Brasil e o pega de surpresa é que o país vive alheio a realidades comuns a estas nações, seu povo ameríndio. As presenças dos povos negros e nativos tidos por indígenas são a base da formação estrutural do sistema colonialista que volta com mais vigor esses tempos aqui no Brasil. Não obstante a invasão ilegal de seus territórios há uma efetiva força de ataque aos seus direitos constitucionais. Há uma sugestiva intenção em apagar suas imagens e silenciar suas falas. Perceber e combater essas mídias é como as redes de alianças afetivas podem atuar. A partir de uma auto educação estar atuante como agente de seu tempo. As relações com suas urgências fazem os movimentos negros e indígenas buscarem aproximação. Esse exercício ressalta os efeitos e feitos coloniais no contexto contemporâneo. Estar dentro da história com consciência pode ser a diferença e a oportunidade que nós temos.

Texto produzido a partir das práticas de pensamentos nos atos do transmovimento Passo a passo Makunaima.