O termo ARTE INDÍGENA CONTEMPORÂNEA é um dos lugares centrais e estratégicos para se perceber no mundo, perceber o mundo, os mundos, as imundícies e as maravilhas do talvez.
Tudo bem vamos aos detalhes.
Imaginemos que o termo é um lugar de “se encontrar” como tem por ai, os lugares onde as pessoas marcam de se encontrar, com um placa, depois de seus volteios no ambiente, a modo de não se perderem para sempre (risos).
O termo é uma arapuca, uma armadilha artesanal tradicional, orgânica e que funciona muito bem. Se você cair na arapuca da ARTE INDÍGENA CONTEMPORÂNEA alguém precisa aparecer para lhe resgatar, talvez para lhe avisar, lhe alertar, advertir, saudar, lhe dar as boas vindas, ou lhe ser hostil, acontece, ué. O resgate também pode ser o seu momento de fuga, quando você escapa da mão do caçador e volta a voar livremente. Ou talvez prefira se entregar em sacrifício e se deixar ser comido para antropofagar?
Então, esse lugar imaginário, só cabe mesmo no imaginário pois na cidade não cabe, não tem espaços e na floresta não dá, ela está invadida. O espaço-tempo-X que é a ARTE INDÍGENA CONTEMPORÂNEA está mesmo suspenso no ar, está por ai como Makunaimas, Hauxs Hauxs, AÑuns, TXAÍSMOS. É como uma sala de estar onde, lugar onde haverá constante trocas de abordagens ( etiquetas sociais gerais). É um ambiente revolucionário? É um vomitório? Um cemitério onde as coisas mortas devem estar, é um lugar de semeadura, de tortura ou de tipos de liberdade?
Aqui, embaixo da grande árvore dos mistérios (que serão para sempre MISTÉRIOS) tá vindo comer uma grande caça chamada CIÊNCIA ACADÊMICA ou a academia e seus filhotes. Tá vindo outro bicho grande e desconhecido, o SISTEMA DA ARTE e seus corpos. Tá vindo em arrodeio, ressabiado, o bicho de mil cabeças chamada POLÍTICA, ESTADO, ESCOLA, JUSTIÇA, SISTEMAS RELIGIOSOS, todos.
E o tal do artista nesta história toda?
O tal ARTE ou ARTEFATO? É fato?
A Arte indígena contemporânea é o lugar de encontro do momento. Encontrem-se, entendam-se, curem-se ou se devorem, por favor façam alguma coisa, eu vou tentar fugir!
Foto:Luna Mayard
Moment da foto: Performance coletiva de entregue da CARTA DOS POVOS INDÏGENAS AO CAPITALISMO entregue ao banco UBS na Suíça durante uma performance no dia 03/04/2019, em Genebra.
Link para a Carta: http://www.jaideresbell.com.br/site/2019/04/03/carta-dos-povos-indigenas-para-o-capitalismo/
Volta e meia estou nessa arapuca. Ali dentro, às vezes é confortável, às vezes não. Me dá tempo pra pensar e observar. “Contemporânea” designa tempo comum ou em comum (co-tempo), também atribuído a um tempo presente, atual. Qual é a arte indígena que não é contemporânea, talvez seja o que devemos nos perguntar. Nomes, nomes de nomes (como diria Caetano), muitas vezes dados por outros, pela crítica, pelo mercado da Arte, pelo capital, pelo colonial (assim como Karajá, Paresi e Juruna não são auto-denominações). Acredito que seja, de qualquer modo, uma interpenetração, um lugar de trânsito e diálogo (misturas voluntárias ou recusadas), que tanto pode ser transformador e antropofágico para um lado (a arte indígena no chamado “mercado de arte”) como para o outro, predação e veneno (o “mercado da arte” na arte indígena). Acredito em transformações, na liberdade e na vida com arte. Enquanto isso, vou girando nesse moquém universal, pra me queimar por igual. (bem passado, por favor!)
Que lindo!