
Acaba que o movimento indígena brasileiro acaba sendo universal, na marra. Assim mesmo, na corrente invisível desse desespero branco-eurocêntrico lascado e contaminante. Como eles temem a morte. Mas isso deve ser teatro.
Vão se acabar na prepotência as expotencias. E, mesmo que nos acabemos juntos, eles devem ir primeiro, por profecia. Assim novas gentes e palavras vão tomando de conta do velho palco que será todo reformulado. Eita que eu tô é feliz nesse primeiro de abril. Vixe como eu estou feliz comendo meu mingau de macaxeira no meu templo das artes indígenas contemporâneas. Esse é o meu sistema, quer?
É que um agente surpresa os surpreende o que para nós, os indígenas é o cotidiano agora mais agitado. Não vamos falar de pânico, desespero e correrias não, estamos cansados disso. O sofrimento deve ser mesmo uma questão de intimidade com eles, os sofrimentos? Sim, tenha intimidade com seus medos e eles deixam de lhe assustar. Isso é trabalho mental. O medo da morte deve ser enfrentado com RESISTÊNCIA. Nossos avós e nós ainda vivos especialmente damos essa aula de graça a vida toda.
Teimamos em viver quando todas as previsões são: selvagens sumam daqui! Não deu nem tempo de diluir as diferenças, mas ainda dá para tratar com nossa típica elegância, as indiferenças. Deverias ter escolhido caminho melhor, já que os tinha. Nós desbravamos e como bravos somos, não fazemos isso, nos são concedidas licenças especiais para passar. É o sol quem nos dá.
Duas crianças brancas passaram agorinha na rua aqui da frente, às minhas vistas. Posso ver pois meu quintal tem cerca de grade vazada, dá pra ver anjos. Elas brincam. Não são inocentes. Seus pais são levianos e como seus ancestrais, irresponsáveis. Como nossos pais e avós sempre nos alertam, deveriam seus pais lhes avisar sobre os cuidados que devemos ter com o inimigo invisível. Na rua há vírus, vários, mas as ruas são suas e a casa de muitas gentes-entidades, boas e más, também.
Assim como humanos há coisas boas e más. Aqui onde vivo esperamos as chuvas fortes da estação que se anunciam. Para os bons entendedores é mais que a hora de ter toda a provisão. Tempos de ficar em casa deitado na rede fazendo amores. Lenha em estoque, roças que não de vazante, queimadas. Vai ter muita carapanã e a umidade impõe em nós a humildade. Deveria ser assim.
Não teimamos com a natureza, seus fungos e suas funções são vitais. Há visitas que só com o rio cheio, sítios que só voltam na estiagem. Mudou tudo, até o sentido da paisagem. Saudade ficou para lá, paixão para o outro lado. Pulmão virou peça de museu e correm boatos da cobra grande. Pajé criança canta no fundo da rede. Liberdade deu à sua mãe para que fosse tomar banho de chuva, livre como nunca sentira outrora. O mundo não acabou e você me envergonhou mais uma vez. Mas estou noutra, podes ir ser feliz mas vá pelas beiradas e não seja teimoso, meu bem.