Abril indígena 2020 – AOS IGUAIS, FELICIDADE


Igual é a vida, para todos, um dia hão de se entender.
Lá, estou lá. Aqui, estou aqui. Acolá, eu fui para lá.

Eu não vou escrever sobre o passado, ele não existe. Eu vou escrever como se eu estivesse lá, pois estou lá, no eterno presente de meu autoeu-interior. Estou com meu povo, tenho um e vamos lá. Hoje é um dia de pescaria com todos juntos, mais uma vez estamos indo. No meio do caminho cai uma chuva boa.

Ela vem vindo harmoniosa, cantando a nós saudar. Nós somos o todo, tudo o que a chuva alcança, somos. A gente se protege com nossos cestos trançados. Tudo, de todos os ambientes interagem de seus modos com dona chuva. A chuva é a felicidade geral.

A gente se amontoa para se aquecer, isso nunca vamos esquecer. Ou, nem nos protegemos. É que a chuva é nossa irmã, não vai nos machucar, nascemos pra renascer. Então corremos livres salpicando a água que já desliza no caminho uns sobre os outros.

A chuva veio mansa, sem raios, não é tempestade, é a felicidade. Gargalhadas plenas nos fazem levantar o rosto. Olhamos para o céu, no rumo feliz e recebemos direto, gotas cheias nos olhos. Assim, só choramos de chuva, choro-felicidade. Será que ainda estão nascendo emoções?

Digo essas emoções, filhas das felizes idades.

Onde é a fonte das coisas? Como dar nome a isso que só nasce com a idade ou com os fenômenos além dos felizes? A resposta deve estar no topo daquela árvore que está carregada de frutas boas justamente para esse dia.
Eu, com minha armadilha, lanço um artifício para derrubar algumas. É que as que caíram, raposas comeram e também bichos nossos que andam no meio da noite, vivendo.

Me lembro que estávamos indo pescar. Mas tudo mudou de rumo e nem fomos mais ao rio. É que a chuva convidou para outro rumo, o rumo-felicidade. Juntamos formigas de asa, asa-felicidade. Enchemos nossos cestos e voltamos. Felicidade seguiu conosco para casa. Lá deitamos com a felicidade em nossas redes. Reacendemos o fogo e tudo se iluminou-felicidade.

O cheiro-felicidade da fumaça nos limpou das vistas-perigo dos donos do mato. Mingau bem bom de macaxeira-felicidade e formigas grandes de asa-felicidade. Balançando-felicidade deitados uns. Fazendo as rotinas das intimidades-felicidade outros. Não se conhece tédio, felicidade não deixa.

Ameaça não preocupa felicidade. Comida sempre terá, felicidade. Saudade não existe não, só felicidade. Medo existe não, só felicidade. Felicidade, não é facilidade e quero mudar meu nome para FELICIDADE. Mudei, agora sou a felicidade, venho do povo de mesmo nome. Vamos!