Léxico para permundos – Como a entidade artista indígena pode “pescar” em duas águas e servir a duplas comunidades?

Léxico para permundos é algo que proponho. Permundos é um não lugar com exigência de um dicionário próprio, ou seria apropriado? É que talvez haja um tipo específico de viventes nos dias atuais identificados por alguns poucos sensíveis rastreadores de criadores de conteúdos não habituais.

Estes seres dispersos estão esparsos sombreados pelas poucas manchas de mata que ainda há e diluídos nas águas grandes das mídias abertas e periféricas sem que a ciência se dê conta de suas magnitudes por mero ângulo de filtros viciados.

Graças a insistências desses seres em teimar contra as artimanhas de uma sociedade geral quando a questão é não deixar sobreviver desvios padrões é que hoje podemos sonhar em elencar seus feitos, conhecer tais sujeitos e perceber estar sob seus feitiços muito bem burilados por tentativas seculares de outras entidades mais comprometidas com outras memórias que a história dita real ou oficial.

São hoje identificados como artistas, ainda que sob pesada negação dos bandeirantes do pensamento que dizem quem pode ser inscrito nas placas e fachadas dos lugares por onde os olhos claros passam e consomem.

São pensadores que se projetam como a extensão de seus próprios corpos numa distensão de outras vidas que nunca deixaram de ser vidas, mas passam a estar presentes deste lado por meio de suas essenciais energias; dar continuidade e vazão aos seus conteúdos, fontes inesgotáveis de si mesmos, corpo maior além compreensões.

Tais artistas hoje podem, fogem, se instalam e alguns o fazem muito bem. Saem de seus lugares para ampliarem suas próprias origens como aquele tipo de peixe que, quando o seu lago seca sai caminhando sobre a terra firme por vários quilômetros até chegar em outro curso d’água e continuar suas jornadas próprias.

Mas essa jornada de fato não é sua, é a jornada dos primeiros de sua origem. Mas cabe a este indivíduo fazer o percurso do momento e hoje, literalmente os corpos de água possíveis estão cada vez mais escassos e distantes. Essas distâncias e escassezes são o componente “contemporâneo” entre aspas pois já sabemos que estamos no pós-tudo.

Mas ainda serve o termo pois ainda não se pagaram totalmente estes rastros e ainda há luz para ser mirar, deste ponto.

Esses elementais da natureza hoje chamados de artista indígenas por hora também experimentam as duplas águas turbulentas das incompreensões. Há de se fazer o percurso entre os lagos e para fazê-lo prescinde um movimento.

Ao se movimentarem nesse sentido causam certa estranheza pois os distúrbios até então eram íntimos aos comunas mas há algo diferente no ar. O que querem tais? Esses seres do nosso meio podem ir por aí sem nós? O que querem esses seres de outra realidade aqui em nossos assuntos? Também diriam os comunas do outro lado linha.

Sem tempo para escutar mais nada que não sejam as vozes ancestrais, os tais desviados seguem suas missões e passam, com muito esforço, ao exercício épico de pescar em duplas águas e servir deliciosos moquéns, damuridas e outros caldos tirando o feijão com arroz de todo dia com tamanha maestria que os comensais nem conseguem perceber.

Então vem a segunda emoção, degustar tais pratos com tanto gosto que nem lhes ocorre de convidar os pescadores para partilhar a mesa que se incrementa.

Mas não há do quê se queixar, uma vez que quem é arte sabe seu lugar e lá as maravilhas do feitos são lugares para apenas eles, ocupados em ocupar as ocupações sociais de tantas quantas comunidades derivam dos autoesgotamentos.

Quem disse que outros mundos existem trouxe tais necessidades, uma involução violável para que seja vista e que contagie criativamente e quem puder que veja e se for ativo, reluz.