MEU PRESENTE É SEU


Quem me conhece sabe que eu adoro o meu aniversário que é dia 27 de março. E antecipo que recebi do amigo Osmar Borges o primeiro presente de meus 38 e vou logo passando pra vocês. Acho que a coisa mais nobre de um ser é a vida e a minha eu já lhe dei há muito tempo. Tempo, coisa mágica é o tempo. E vejam se a coisa não é meio… coisa de energia ou outra desconexão fora do senso da normalidade? Vejamos. Recebi e já está no acervo de nossa galeria o MACUNAÍMA, livro lançado em 1979, ano em que nasci e aqui, foi o ponto J da minha suspeição. A edição comemorativa faz honras à obra Macunaíma – O herói sem nenhum caráter do Mário de Andrade lançado 50 anos antes de 79. Vejamos que, por força da arte, tentou-se dar um ar de vida a esse país e só quem reagiu foram as araras e as maritacas como ensaia embasado Antonio Bento, o entendedor de arte. Pulando tudo que é cerca Mário veio – sem vir – a Roraima. Sim, a Roraima, nesse fim de mundo e raptou Makunaimî, mais ou menos assim, para empestear o Brézil de Cabocagem. Mas quando?! Se pouco foi seu efeito, embora grande o feito, e ainda é convenhamos. Claro que Makunaima se fantasiou, pois besta não foi de perder tal carnaval. Índio já morreu e caboco, nem pensar, teleeezé?! Sim, pensam, pois ainda recebemos como presente o ódio contra os cabocos, as cabocas e loucamente o brasileiro continua na leseira baré da auto tortura que nunca terá fim. De novo, como sempre, vem a perdição em descaminho, da falta de identidade, personalidade, caráter, boa vontade e novamente recorremos a Makunaima, que pariu Macunaíma e foi mandado à puta que lhe pariu, pois Mário morreu e sabe Deus por onde andará. Existe sim o grande Caráter mas não é pra qualquer um não senhor. Sustentar sua preguiça é para os realmente fortes e contar belas histórias; só olhando pro céu, de barriga cheia, e de peixe. Carybé por exemplo, veio da Argentina o artista. Veio em nosso socorro pois ele nem se perguntava mais que raio de país era esse, foi entrando e se estabeleceu. Hoje temos a riqueza dessas obras, que para mim, servem de tapa-sexo, pois falta tanga e eu ainda sou índio. Eu não sou ninguém, mas esse arrepio que tu sente deve ser um pouco de tudo. Tipo, sincretismo, descrença, hormônio e doença. Das virulentas recordações chegam aos nossos tropicais terreiros, o mesmo de sempre, sarcasmo e esbórnia e o trabalhador é debochado pois aqui não é pra se ter nada, nada e não insista. Essa obra não veio aqui a passeio, veio de volta pra cutucar os preguiçosos só para mudarem de lado e voltarem ao sono, pois há quem vele. Aquele natimorto recebe o sopro do xamã e sai lendário, em vida, na mata que ainda sobra carrapeteando, e isso é bom, também. O livro chega em boa hora pois escrevo ANTES DO CÉU CAIR, um livro de sacanagens que conta histórias peladas que nunca serão lidas. Para os pesquisadores, o livro está disponível e toda vez que aberto um berro sai e onde o fraco for, um besta cai. Makunaima é mesmo O cara e pronto! Quem te disse que seria diferente? Juvenal? Foi-se no vendaval e se não és capaz com o pote vá por aquele caminho que lá na frente, estão dando coisas. Pare na sombra alheia, fure a fila, o olho e trapace se não, você não se cria, criança. Só sei que estou feliz, pois pra me ver feliz basta me cutucar naquele pontinho certo. Assim como essas coisas simbólicas, me dando um livro lindo nascido no mesmo ano que em que eu, 79. Fazendo alusão ao tempo, estou, pois coisa engraçada mesmo é o tempo e já estou passando pois tudo passa e eu também adoro não ser nada, não saber de nada e sair na melhor hora. Antes que se decrete o fim, fui. É caboco? Sim, pode passar!