O MENINO, A ÁRVORE E A GRATIDÃO!


Foi cedo pra rede, já que da rede mesmo via as estrelas. Logo posto em sonhos, seguiu com a galáxia. A noite passou em festa, um tipo de festa onde espíritos mansos se afagam. Cruzavam, os astros, no céu e, ao sono, teve parte da instrução. Cedinho acordou e, como as coisas boas do mundo, amanheceu mais completo. Era o dia da gratidão e, como sempre fez, repetiu. Foi feliz pelo caminho, assobiando junto com a orquestra de todos os pássaros que acordavam. Foi pras montanhas, o lugar de onde sempre soube virem as coisas boas. As coisas boas… pensava olhando tudo com encanto enquanto caminhava nu pelo campo sem caminho. Era naquela árvore, no meio da mata densa, que ele devia pousar. E foi sem nada comer ou beber, pois em parte estava aí a instrução. Nesse tempo, ainda tinha muito bicho e as maravilhas da natureza surgiam em lapsos bem aos seus olhos. Chegou, subiu na árvore e, da árvore, passou a fazer parte. Ficou parte da árvore e então veio a grande revelação. A árvore o recebeu no fronde, num galho bem curvado, onde ele sentou com conforto. Ela então começou.
Sê bem vindo ao meu coração, meu filho. Pediram, os grandes ensinamentos, que viesses a mim como tal, nu e sedento. Parte já realizaste, pois, cá está e, lúdica, tornaste tua cruzada, enquanto podias desistir, ou mesmo te distrair com tanta coisa boa à mão. E continuou. Nossa função nessa parte do grande mundo é prover. A todas as espécies viventes, aos que já foram e aos que poderão vir, somos nós, as árvores, as provedoras maiores. A nós foi dada a maravilha, puxamos água do solo e soltamos no ar. Do ar, recebemos a chuva, que forte e contínua, podia arrasar a terra, então, a amortecemos. Damos abrigo e comida a todos que nos recorrem. E continuou falando de todas as maravilhas das árvores, de todas as suas classes e onde foram preparadas para viver. No deserto, no gelo, no fundo do mar, falou de tudo e o tempo voou. Ele então entendeu o sentido da gratidão. Então choveu e ele bebeu água. Teve frio e se cobriu com as folhas. Lembrou da fome e comeu frutas. Teve sono, se esticou no galho e adormeceu. No fim da tarde, antes daquela hora de luz maravilhosa, uma pequena cigarra, daquelas que dão na mata e que cantam chamando chuva, lhe falou.
Ei, a vovó mandou te dizer que a gratidão está só nisso, na memória e mansidão. A gratidão está em permitir-se. Veste-te e volta para teu tempo. Viver assim não trará o tempo de volta, mas é uma forma de fazer compreender, és criança e eles são homens grandes. Lá onde estás, onde chamam de futuro, há uma forma melhor de viver e as crianças são nossa ligação em qualquer tempo. Sim, os homens traíram os animais, cortam árvores todos os dias e não entendem mais nada de gratidão. E foi, o menino transformado, feliz e meio assustado, pois a cigarra lhe falara que aquele dia seria multiplicado, pois pureza ainda tinha encontrado nas futuras gerações.