AS INSTALAÇÕES


A arte é o mais polido ato do grande criador. Ele próprio é o primogênito dessa mãe. É assim mesmo. Parece faltar o ato precedente, mas esse é só o nosso teimoso querer.
Uma superfície pressupõe a existência de fluxos e a natureza plantou em nossos olhos lágrimas para umedecer a parte mais dura do ser, o coração.
Felizes os benditos que dão vida à paisagem, que floreiam a resistência nas horas mais duras da grande passagem. Há uma razão para tudo ser e ao homem foi dado mais: a capacidade de transgredir o que os outros seres não fazem às nossas vistas.
A porta se abriu para o desconhecido e na hora errada se deixou o paraíso. Parecia tudo perfeito e muito harmonioso; não teria graça. A ordem como tal não daria um bom romance. Então vieram os primeiros, antes de nossa presença, bem antes, as astúcias. Lá, no princípio de tudo, bem antes disso, tem a origem de tudo. O dono de todos as coisas gosta de brincar.
Foi dessa vontade incessante que ele nasceu e criou todos as coisas. O ser das invenções só tinha um sentimento, era um grande criador. Criava o tempo todo e logo criava coisas sem nome, soltas na imensidão para lá na frente, à reação do ambiente, acharem seus próprios propósitos. Assim, o brincar passou a não ser bom, então já estávamos na nova era.
Os gêneros estavam desfeitos e em variações profundas os questionamentos feitos. Diante da quase nudez, eis que não há mais remendo pois existiam três e o vencido nunca se deu por tal e não poderia haver paz.
Antes foi dito que podia existir amor com este comunhão, um novo tempo. Mas faltaram as condições, as quantidades certas e de tanto amar se excederam, os amantes, em suas certezas. A liberdade se encheu de veneno, a magia do equilíbrio nunca foi o livre arbítrio.
Os sentidos das palavras estavam distorcidos mas os efeitos de seus poderes, vivos, atuando.
O livro das primeiras ordens foi escrito nestas circunstâncias. Foi o primeiro mas não era mais o princípio. Foi uma tentativa tardia de ditar obediência, o que nunca caberá pois existem superfícies estimulando transgressões.
Para além das superfícies, existem mais e mais possibilidades. Elas dialogam no sentido de acharem substâncias em nossas mentes ou silenciosamente invadirem nossa dormência, aflorando em coisas sem qualquer possibilidade de explicação. Felizes os benditos que dão vida à paisagem, que floreiam a resistência nas horas mais duras da grande passagem.