JAIDER ESBELL – ARTISTA MAKUXI EXIBE TRAJETÓRIA EM MOSTRA


A CASA DO NEUBER oferece em sua programação de férias a trajetória do artista indígena Jaider Esbell. A mostra abre no dia 26 de janeiro, quinta-feira, quando será comemorado o aniversário de um dos ícones do movimento cultural Roraimeira e idealizador da casa, o artista Neuber Uchôa. A mostra integra duas exposições principais e a proposta completa é compor com o carnaval, o que será feito com obras em várias extensões. Jaider Esbell ocupa a casa com a exposição It Was Amazon/Era uma vez Amazônia que está em itinerância pelo Brasil e foi exibida na Bienal de São Paulo, em 2016. Outra exposição é O Xamã, uma coleção de 16 obras que foi inspirada na estética da dança xamânica dos povos Xirixana/Yanomami. A mostra apresenta um passo a mais na evolução do fazer artístico de Esbell, que também é escritor/poeta com performances conhecidas de naturezas coletivas. Os desenhos originais da mostra O Xamã constam em um livro único em formato de bolso produzido durante uma sessão xamânica na comunidade Xirixana de Sikamabiu – TI Yanomami. Para expor em obras, o fotógrafo Marcelo Camacho foi convidado a editar os desenhos e o resultado surpreende em vários pontos, sendo forte marco evolutivo nas obras de ambos, Jaider Esbell e Marcelo Camacho. Para quem busca mais profundidade, a mostra oferece várias linhas de análise. Em resumo, é uma extensão da floresta ao palco urbano, transpondo a ideia de profano e sagrado. Livre para interpretações, a mostra exibe antes de tudo o artista Jaider Esbell e seus alcances, suas provocações e conquistas. Esbell se apresenta na Casa do Neuber como um presente à sociedade enquanto se despede das Terras de Makunaima para longa jornada itinerante. Arte em todas as veias, o fato é que a cultura brasileira ganha mais reforço nas múltiplas frentes coletivas. Culturas e identidades regionais dão ao país aqui, o tom global, pois é aqui que tudo começa e onde se espera que todos terminem. Terminem no sentido de vir, sentir, ficar e gostar.

Conheça o texto da curadoria da exposição O XAMÃ.

O XAMÃ

Reúne todas as forças e não duvide, desvia tempestades. Só de pensar me encho de arrepios e essa força queremos que também sinta. Antes de qualquer idolatria é de linhagem que vêm os jardineiros do eterno. Eles já estão lá e de lá trazem a própria tecnologia; o sopro, a fuga do tempo, a desfaçatez da matéria, o poder de cuidar da alma com a vida, o trabalho das plantas pelo humano. Não esperam retorno e conhecem o efeito, a maldade do semelhante. Param essas forças com outras, no ar, cruzando, miram o infinito e jogam para outra dimensão, o indesejado. Dançam como espetáculo, bailam como linguagem, seguindo um voo, o voo. Movimento em leveza, a arte é mesmo beleza, cura sem cicatriz. O Xamã. Era noite e tinham 7, suas mãos em minhas costas eram quentes. Eles me tocaram, vi o outro ser em seus olhos e me entreguei no sopro, tremulando para acordar reposto do transe cirúrgico, sem explicação. Amazônia, século XXI.

Desenhos Matriz: Jaider Esbell.
Foto, composição e coloração digital: Marcelo Camacho.