TUDO LITERATURA! A Mosca – Nada pessoal, tudo coincidência


Em Roraima, faz lama, de manga e caju, na festa da mosca da carambola. Chora meu estado inane diante de tanta psicodelia. Lá, além daquela paisagem dos deuses, demônios atuam de gravata e o povo se mata na periferia; cárcere maior do dia a dia. Processos em gavetas, atrasados, adulterados, trancafiados e os índios surrados sem culpas, ou seja, sua culpa, o belo viver, e só. Culturas trocadas, valores inversos, o triste diverte e eles batem palma no aeroporto ao reacionário. A fina corrente que fecha à noitinha é bem mais leve que essa grossa que arrasa de uma vez só o caimbesal, pondo a correr o canaimé que mendiga, pedinte, no asfalto esburacado, arguindo seu progresso. Aviões que chegam sem horário, que levam o nosso erário, abduzem mais que OVNIs, que, de tão óbvios, não têm mais graça. Desce canoando, o índio envenenado, aquele que não foi recrutado para o garimpo ilegal nas terras da união. Militares nos quarteis não cuidam dos planteis e nesse rastreio aéreo, só mistério. Comandam organizados, de outros presídios, o lado sujo do grande negócio. Com palavras cruzadas entre democracia e meritocracia, eis os chefes. Ditaduras pessoais, desejos de arma com coldre. Passe e não me cobre, me beija e tá tudo bem, o eleito pensa que tudo comprou. Escolas vazias, merendas em falta, apanham os professores dos políticos do dia. Bancada voando em enxame, pra lá e pra cá, sobre a floresta que some de cima dos isolados. Minérios raros, filhos da terra em hipnose, palácios costurando o futuro, buscando linha ao lado, deixando de fora fibras prontas, os filhos natos. Roraima das maracutaias, das madrugadas em vendagens de tempos eleitoreiros. Roraima das melancias, peixes podres, buchadas ao povo, e viva a merda da meritocracia. Roraima das redes pequenas distribuídas com nojo nas vicinais e malocas frias, onde pontes queimadas são fruto da guerra gerada para mais caos. Essa madrugada eu passo com minhas mangas, pra manter minha vida cabocla, pois ninguém verá. Ninguém verá ou saberá, pois, visível mesmo são corredores lotados dos hospitais, reuniões, mídia paga e especulações das grandes corporações. Falta leito e cadê o eleito, que voa, pra lá e pra cá, prometendo aos bestas que estão no vício, recrutando noviços. Esse ano eu não vacino meu gado, estamos livres de aftosa, meu candidato ganha e eu vou pra Dubai, esqueço conselho de pai e vou ser feliz, pois besta é o povo e você, meu capataz!