Texto 07 – CORRIDA PARA A FLORESTA – RUN TO THE FOREST
Coleção produzida nos Estados Unidos, no curso RUN TO THE FOREST, com Lêda Martins e o artista. (Pitzer College – CA, 2013).
Ainda, um dia desses, era floresta, a nossa casa. Agora, uma civilização faz mais um ciclo ao redor da terra, uma caminhada consciente ao próprio fim. Com que tempo devemos nos ater, se é real a degeneração da memória social e da consciência coletiva de tempos possíveis? O que se vive hoje é presente e medieval, mas deve ter um sentido, alheio, portanto. Nesse redemoinho, diante de espelhos, não vemos uma imagem de nós mesmos. Já sendo história, mas ainda podendo argumentar, deve haver outro caminho. A corrida para a floresta deve ser planejada; existem espíritos lá. Toma essas palavras e as leva ao povo. A ele, deves dizer, vêm coisas grandes por aí. Tem muito diálogo, não uma conversa, ou muita conversa e não-diálogo. Quando haverá? Quando iremos considerar as mães que fazem fogo, ainda na madrugada, e a fumaça sai entre as palhas corroídas, indo buscar a copa das árvores? Até quando existirá esse amanhecer demorado, com seus filhos mais amados, ainda na rede, e os bichos da casa entre magia e tormento? No coração das mães, mora o futuro. Homens vão à guerra; mulheres-mães, ao impossível. A propósito, me disseste que teu mundo era melhor, assim como o teu Deus. O que achas que fiz com os meus, se não os guardei secretamente? Para a existência dos deuses, devem existir adoradores. Mantive muita coisa comigo; outras deixei em lugar fácil, mas para onde levar tudo isso mais uma vez? Tem coisas que só acontecem na floresta. Essas coisas devem continuar. Os velhos olham, hoje, a vida que ouviam falar como distante. Como conceber o trajeto de um povo que cresceu demais? O que foi guardado está a salvo, mas, e o dia de amanhã? Talvez pudéssemos ver as lagartas e entender que antes de comer as últimas folhas deve-se construir o casulo, para, no tempo da metamorfose, garantir a vida futura.