CAMINHOS PARA A SIMPLICIDADE – O outro no caminho.


Texto e obra para a exposição coletiva EU o OUTRO organizada por Bené Fonteles.
Local: Galeria MANOBRA – DF 150, KM 5 Chácara Vila Rosa. Conjunto D, casa 6, Contagem Sobradinho II.
Abertura: 18 de maio, sábado às 17h.
Período: até 21 de junho.

Marcado de arte segue com sua casa pintada nas costas o eterno jabuti passando por tudo, por todos. Suas marcas nas costas são cicatrizes, segredos de um tempo em que confiou no outro e sobreviveu já como sagrado. Confiou em alguém e foi levado para o rumo do céu pois almejou outro paraíso. O outro lhe enganou e lhe soltou no ar para que caísse em cima de uma pedra e assim se partisse todo e morresse. Foi o outro que fez o jabuti. É o outro quem nos faz, é assim mesmo.
O jabuti também já quis ir para o céu antes da hora. Querer ir para o lugar misterioso prometido no além, quase lhe custou a vida. Sua loucura de confiar no outro lhe deu porém um outro tipo de eternidade, o amor. O Jabuti já viveu todos os sentimentos do mundo e sobreviveu a tudo para nos ensinar a sermos simples, mansos e pacientes.
O jabuti por tudo é o mestre da simplicidade e podem aceitar que também aqui nesse mundo a simplicidade é o amor. O jabuti não quer exatamente mais nada, ele só quer passar calmamente e em paz pois ele é o amor, o fruto do bom trato com o outro. A paz de ter sobre as costas a sua própria casa nos dá pistas de como lidar com outros mundos. Curas, resiliências, perdões, emoções extremas nos plurais.
O Jabuti tem sua infinita batalha com a onça mas é somente para lhe dizer: comadre onça, cuide de sua vida. – Comigo você já perdeu pois eu não quero brigar. A onça é a outra consciência, o outro que cobra, provoca, instiga, azucrina. A onça é o capitalismo, a violência, o nosso lado obscuro, mesquinho, esquivo e perverso.
Sábios não brigam mais. Sábios só andam por ai destoando de toda a agonia da maioria. Andando com suas casas nas costas o jabuti tem tudo em si, o tempo livre para passear, já em silêncio. É resistente e pode viver muito tempo sem comer ou beber, sem encontrar ninguém. Vive sem perguntar, ou gritar, ou chorar, ou sem estar triste ou carente de qualquer outra coisa.
Os sentidos mais dispersos, os distúrbios mais torturantes que uma vida pode oferecer hão de decantar e aflorar dessa dor, amor. Amor pelos outros, aquele que vem no final pois vem de dentro. É o outro que vai nos mostrar o amor. De fato o amor não vem sem antes o seu paralelo, a dor. Quando, no outro, nos lavarmos dos medos de nós mesmos veremos finalmente a paz que é o amor, simples. A paz e o amor são mansas e correm lentamente já sem velocidade como ele, o jabuti. Os passos do jabuti são os passos do amor e por pura simplicidade uma hora ele lhe chega, também, quando passar a tempestade.