Abril indígena 2020 – Ontem eu só vivi


Ontem fiz meu dia lindo, de novo. Mamãe quis muito ver a vovó que já está cansada e baixou ao hospital. Fui buscá-la onde está isolada. Ela virou arte, anteontem, ontem e hoje aqui, na galeria. Acordei muito cedo ontem como sempre. Antes, antes de ontem, dormi já ontem pois trabalhei até tarde em projetos para possível residência artística em Londres.

Mamãe me esperou dormindo até que a levei pra minha casa e então amanhecendo, íamos viajar pra Normandia.
É, se o vírus deixar e eles realmente me quiserem, o universo para lá vai me mandar, pra Londres. Eu preenchendo a inscrição mamãe escutava, tenho certeza que aflita. Então acordei com a sabiá, no dia da viagem. De fato, acho que nem dormi, pois, contínuo é o sonho esse grande trabalho que me preenche. Então não escrevi o texto diário para o mês Abril-indígena, apenas vivi, o ontem.

Lá deu tudo certo, até agora por enquanto. Ajudei o meu irmão e sua família. Residentes da Galeria da Normandia de Arte Indígena Contemporânea fizemos um ajuricoletivarte. Comemos peixe com farinha. Olhei para as serras e senti foi muita alegria. Andei um pouco pela pequena cidade, cidade que nunca foi minha. Voltamos no meio da tarde, queria ver a Live da Yandê 18h. Na estrada transcendi, de novo. O Sol se pôs tão lindo, me pus a cantar. Foi mágico ver o pôr-do-sol com minha mãe depois de ela ver a sua e retornar extasiada para voltar à sua casa.

Deslocado, penso que o que vejo é miração. Estrada de chão parentes andando de moto, poeira e sol lascando. A comunidade que não pude visitar e o rio ainda estava lá, só a passar. Foi assim que não pude te escrever ontem, só hoje que puxei para cá nosso reflexo ação. Meu coração tá grandão, trouxe caju cozi com mel. Amor, dei jenipapo a minha mãe, ela levou flor pra sua casa e quando a deixei me disse: Vai com Deus e eu vim com Deus como ela me mandou.

Gratidão dia de ontem, você não existiu e eu nem derramei essa lágrima no final desse texto e dessa tarde. Minha boca ardo, comi pimenta para me alembrar, alembrar de sempre amar, e só.