Abril indígena 2020 – Umîri’kon – Nossa roça!


Eu sou um artista, mas antes agricultor. No mundo antigo eu ia construir um prédio, espaços para vitrines. O mundo novo disse-me não, você vai fazer é uma roça, uma roça para você comer com seu pessoal. Eu fiquei muito feliz pois mais que arte eu amo roças, a arte das roças fartas. Então eu passei a sonhar com a roça. Mandei que sonhassem com roças e dentre os sonhos teve até roça de peixe. Pode, no sonho tudo pode e se pode, é.

Vô Makunaimî não brinca, ele mesmo diz sem parar, é plantar nosso habitar. Makunaima veio minhoca, trouxe lá do céu uma gota de orvalho. Desceu Makunaima como vento e depositou a gotícula d’água no ovo da minhoca e ela acordou. Ela acordou com fome e foi comendo folha seca para criar uma forcinha e ir chamar as irmãs.

– Vamos, Makunaimî quer roça!
– Oba, vamos ter roça?
– Sim, vamos ter roça.

Todas as minhocas acordaram imediatamente e por baixo da terra ressecada um ajuricoletivarte para a roça das artes começou.

Quando alguém passar via ver a roça e vai ficar feliz. Espírito antigo vai descer também para passear na roça. Lagartinha verde vem, pulgãozinho também. Besourinho brilhozinho vem, aqueles insetos sábios de revirar a terra tudo vem para essa festa. Vem todos os vivos pra cá, eu sei que eles vêm, pois, a roça, manda chamar. Eu tô feliz vendo todo mundo arrumando suas coisas para ir pra roça.

Todo mundo se organiza e deixa recado bem dado. Filhos, fiquem em casa, nós vamos na roça buscar nossa paixão!
Gratidão transmundos, artista como sou não deixaria em branco, tamanha coloração.

Enoque Raposo no suporte linguístico do idioma Makushi.