Abril indígena 2020 – sem roça não dá gente


Sem roça não dá gente, dá outra coisa.

Dá uma coisa estranha distante da gente, a roça que somos nós. A gente-roça não sabe conversar com quem não pode ouvir. Mas a gente cresce por todos os lados buscando acolher. Colhemos, somos roças coletoras.

Eu sou uma roça feliz, já posso ir para instâncias outras. Eu não sei imaginar como é não ser uma roça. Como será ser não ser raiz, viver dentro da terra sendo eterna? Eu chamo para trabalhar pois sou uma roça e roças chamam. Roças chamam ajuri, aquele grande mutirão pra se unir. Roças amam por isso clamam.

Roças têm bons sentimentos por isso sementes. Eu sou uma roça pequena, minha pele colorida. Eu sou uma roça com vários caminhos, caminho da roça me leva até mim. No caminho tem capim, canto de japiim. No caminho para mim tem algo assim. Juriti pousa bem em mim, anda, bica, come, faz cocô e vai embora. Depois volta com a filha e faz tudo de novo e eu aqui, só a receber.

Sem roça não dá! Como é que vou amar? Onde é que vou morar, descansar me proteger? Quando pequeno lá nas terras da gente eu passei a manhã toda deitado no chão, no meio do manival. Foi uma manhã universal. Eu bloqueei o resto do mundo e fiquei olhando o infinito das folhas das manivas arejando luz do sol em minha nave ao vento. Depois disso, soube de vez, que sou uma roça, e só.